A Greve dos Pilotos da TAP

Ontem recebi este e-mail, enviado por uma funcionária da TAP e que espelha o sentimento dos restantes trabalhadores da empresa perante esta greve:


Sou funcionária da TAP Portugal. Como é do conhecimento geral, estamos numa situação delicada, muito por culpa de uma crise que não conseguimos controlar.
A admissão de novos colaboradores é uma realidade a evitar. Assim sendo, os recursos humanos da TAP estão sobrecarregados. A política da empresa, nesta fase, passa por atribuir projectos/responsabilidades a pessoas que já possuem carga de trabalho excessiva e é habitual ver os colegas a sair fora do seu horário de expediente, exaustos, sem receberem mais por isso. No dia seguinte estão novamente no escritório a repetir o ciclo sem ver um vislumbre de compensação financeira. As assistentes de bordo recebem “X” adicionais cada vez que se levantam da cama para fazer um voo. Pessoalmente recebo uma palmada nas costas por ter conseguido chegar a horas, dinheiro: nem vê-lo.
A responsabilidade também não se reflecte no salário mensal. Uma pessoa responsável por assegurar uma área de milhões de euros acaba por receber menos que uma mera assistente de bordo. Acreditem quando digo que existem assistentes de bordo a receberem mais 400% do que uma pessoa que está a trabalhar nesta companhia há 20 anos. Alguns dos comandantes que vêm agora reclamar melhores condições salariais recebem mensalmente o que, pessoalmente, ganho num ano. E digo alguns porque a restante maioria precisa de 3 meses para chegar ao meu salário anual.
Com isto não venho reclamar da legitimidade do pedido de aumento salarial por parte do pessoal navegante de cabine, PNC. O que reclamo é a falta de oportunidade, a falta de respeito dos PNC pelos colegas de terra quando reclamam mais dinheiro, a ganância cega na qual preferem levar a companhia à falência desde que lhes encham os bolsos, a desconsideração pelos passageiros que confiam na TAP para voar. Se a TAP entrar em processo de falência não sei que aviões estão a planear operar. Talvez, desempregados, consigam perceber que o que ganhavam dava para aguentar até uma melhor oportunidade para reivindicar os seus alegados direitos.
Este email é uma espécie de “greve à greve dos pilotos”. É meramente simbólica porque embora me sinta “mal paga” acabo por vir trabalhar todos os dias para tentar levar a NOSSA companhia em frente. É simbólica porque o confronto directo com o pessoal de elite da TAP é algo que nos prejudica dentro da empresa e ai de quem lhes tente pedir alguma contenção nestas horas.
Não aguento mais ver esta empresa assim. Uns puxam para o lado, outros para outro. O pessoal de terra sente-se confortável com esta situação? Claro que não estamos satisfeitos por não sermos reconhecidos pelo nosso mérito. O dinheiro dá jeito a toda a gente. Não sou hipócrita. Mas se estamos calados é porque sabemos que a crise não é uma “história da carochinha” contada pelo Administrador. A taxa de esforço e a ginástica financeira custa a todos. Mas acho preferível lutar pela empresa do que sangrar a empresa lentamente até à morte com greves.
Mostrem insatisfação se a sentem! Mas por favor deixem em paz a sustentabilidade financeira da empresa. Já chega! DEIXEM-NOS TRABALHAR
!


Não posso estar mais de acordo com o que esta senhora diz. Esta greve é vergonhosa e por muito que o Sindicato dos Pilotos nos tente convencer do contrário é praticamente impossível ser solidário e partilhar do mesmo pensamento de um bando de meninos (e meninas) mimados que já têm mais do que qualquer outro coleguinha do jardim de infância e mesmo assim querem mais.

Bem sei que devemos lutar pelos nossos direitos e não deixar que nos tirem aquilo que já conquistámos, mas há que tirar os olhos do umbigo e perceber a melhor altura para fazer essas reivindicações e, claramente, esta não é a melhor altura.

Sei também que estes senhores passam muito tempo no ar e talvez esse facto lhes tenha tirado a capacidade de ver a realidade em que vivemos. É que é preciso ter muita lata para vir pedir aumentos a esta altura do campeonato, quando todos os dias o número de desempregados aumenta, quando as empresas andam com a corda no pescoço (especialmente a TAP) e quando é pedido a todos os colaboradores que façam um pequeno esforço para não haver despedimentos.

É interessante ver o tamanho do egoísmo das pessoas que levam adiante esta greve sabendo das consequências que a mesma pode ter dentro da empresa, sabendo que pode colocar postos de trabalho de pessoas que (sobre)vivem com um rendimento muito inferior ao deles mas que vestem a camisola e dão todos os dias o litro para melhorar a situação da empresa e conseguir manter o seu emprego. Já para não falar dos milhares de passageiros afectados, que para além de perderem tempo e dinheiro, e com certeza, grande parte deles, aufere rendimentos bem inferiores ao dos pilotos, ficam insatisfeitos com a empresa e no futuro podem não voltar a voar em voos da TAP, fazendo com que esta perca clientes e, consequentemente, receitas.

Não digo que o Sindicato dos Pilotos não tenha razão, simplesmente o timing escolhido para esta greve não foi o melhor. A situação da empresa, do País, do Mundo, é delicada, há pessoas a lutar por manter os seus postos de trabalho em empresas que evitam a todo custo fechar, e estes senhores reivindicam mais regalias, quando já são grandes privilegiados.

Meus senhores, tirem as palas dos olhos, e vejam o que se passa à vossa volta, vão trabalhar, ajudem a vossa empresa a enfrentar a crise e quando a situação melhorar e houver condições, reivindiquem essas coisas todas!

Comentários

Isabel Pereira disse…
Olá Andreia, concordo contigo, sou irmã da Lara e já fiquei fã do teu blog ... conheço pessoas que já não são aumentadas há 3 ou 4 anos ... têm o salário congelado porque a empresa onde trabalham não pode suportar mais encargos ... é isso, ou o desemprego ... e acho que ninguém prefere a 2ª opção.
Apertar o cinto é para todos, ainda que parece que para alguns (as tais elites) a crise passa ao lado ... ou se calhar, por estarem sempre "no ar", esquecem-se em que país é que vivem ...
Haja mais bom senso e menos ganância, porque de outra forma, o país não evolui ...
Obrigada pelos esclarecimentos, é desta forma que vemos o outro lado da questão, e do absurdo que é as assistentes de bordo serem tão bem pagas quando não fazem nada de extraordinário ... peço desculpa se ferir susceptibilidades, mas dizer "chá, café, laranjada" em 4 línguas diferentes, não me parece lá muito espectacular :)

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